sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Nem tudo é o que parece

[Você pode ler este texto ao som de Beautiful Lie - 30 seconds to mars]

Tem um cara sentado em um banco no parque lendo jornal. Ou melhor, você leitor acha que ele está lendo jornal. Meu carrinho de doces fica num ponto estratégico entre o banco onde esse sujeito e onde uma jovem moça está sentada com seu namorado que ele estava observando desde o início. De início comecei a pensar muitas coisas. Que ele era um detetive, um perseguidor apaixonado, um assassino. Este último me deu arrepios só de pensar.

Às vezes ele coloca a mão no ouvido e sussurra alguma coisa, mas minha inaptidão para fazer leitura labial não me permitia entender o que ele estava falando. Aquela situação já estava me deixando tensa. Nunca vi um olhar tão frio e incessante igual aquele. Parecia que a qualquer momento ele poderia atacar.

Para o minha falta de sorte, ele percebeu que eu estava observando-o e me olhou fundo. Decidi reposicionar meu carrinho para um pouco mais a frente para evitar que ele pensasse que eu iria fazer algo contra ele ou fala e alguma coisa. Isso pareceu satisfazer ele porque logo que me afastei, ele retornou o olhar para a sua vítima. Quero dizer aqui, leitor, que era uma terça à tarde e o parque estava vazio, logo o que aconteceu a seguir foi visto somente por mim.

Quando ele retomou seu olhar para o casal, logo sacou sua arma e acertou um tiro na cabeça de cada um. Os corpos caíram como se fossem bonecos de pano e seu sangue derramava como um sobre o outro, devido ao fato de terem sido pegos durante um beijo. Levei as mãos até o rosto de horror. Não iria gritar, pois queria continuar viva. Eu estava tão apavorada com a cena que não vi que ele se aproximava de mim.

- Gostou? - disse ele para mim.

Olhei-o assustada e disse que tivesse piedade.

- Ora mulher, porque eu haveria de gastar bala com você? Quando na verdade quem vai ser acusada de tudo é você.

E colocou a arma em minha mão. E agora o que eu faria?

CORTA!

A cena foi cortada, o diretor agradeceu pelo dia de trabalho e elogiou a mim e ao Travolta pela seriedade na cena inicial do filme. E você, leitor, achando que eu presenciaria um assassinato e ficaria quieta.


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