segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O pássaro

[Você pode ler este texto ao som de Sitting, Waiting, Wishing - Jack Johnson]

Era uma linda noite de inverno. Aquela era minha primeira noite em Lisboa. Flocos prateados caíram, brilhando na clara luz de Lua cheia. O melro desceu e pousou no banco que eu estava sentada tomando meu café. Nunca tinha visto um e fiquei admirada com sua beleza. Sua cor preta se destacava na neve branca.

Seu canto me trazia lembranças. A trajetória percorrida para chegar até aqui foi complicada. Eu saí do Brasil com o coração em pedaços e sem ter para onde voltar caso tudo desse errado. Eu perdi meus pais em um acidente antes de receber a proposta de vir para cá. Meu namorado havia me deixado logo após o acidente. Eu achei que nada de bom iria acontecer mais em minha vida, até que uma reunião no trabalho mudou tudo.

Eles estavam abrindo uma filial em Portugal e gostariam que uma parte dos funcionários viesse trabalhar aqui. Como eu já não tinha nada que me prendesse no Brasil, fui a primeira a me candidatar. Vendi casa, carro, móveis e vim somente com as malas de roupa. Antes de sair já tinha tudo organizado aqui. Foram dois meses de dor, ansiedade e medo. Eu agora iria enfrentar o mundo sozinha, literalmente.

Acordei de meus pensamentos com o pássaro no meu joelho me olhando em silêncio, como se tivesse observado todos os meus pensamentos junto comigo. Como se compreendesse cada dor, cada sorriso, cada medo que eu sentia. Era como se ele me conhecesse há tempo suficiente para entender meu olhar. Ele cantou mais uma vez, como se me desejasse boa sorte e voou. E eu fiquei ali, admirando a beleza do seu voo e torcendo para que realmente tivesse a sorte que ele desejou.




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