sábado, 28 de fevereiro de 2015

A vida é uma pizza

[Você pode ler este texto ao som de: Space Oddity - David Bowie]

Chegando ao fim do desafio dos 25 temas, hoje eu tenho que falar do meu alimento favorito, que não é novidade: pizza! Mas não é sobre a maravilha desse coisa divina que eu quero falar. Eu quero fazer uma comparação com a vida.

Veja bem a massa da pizza: ela é batida, socada, um rolo compressor a esmaga, então roda, roda, roda (rodou!), é jogada pro alto. Tudo isso no maior tédio, como de costume. A vida não fica muito diferente. A gente leva umas pancadas boas, é esmagado, deseja que o mundo gire de novo e continua vivendo o ciclo.

O molho, é como se fosse a base que se pode comparar com escola, trabalho, amigos, família, namorados(as), ou seja, tudo aquilo que é comum para todos. Nascer, estudar, trabalhar, conhecer alguém e morrer.

Agora, o melhor são os complementos. Na pizza, pode ser queijo, presunto, calabresa, cebola, tudo que faça o gosto dela ficar melhor e mais diferente. Na vida, isso pode ser substituído por coisas que façam seu coração bater, seu sangue pulsar, que façam você achar que tudo valeu a pena.

Então, não pense na vida como um jantar com jiló, abobrinha e chuchu. E sim, numa pizzaria com uma variedade de sabores incríveis, com ingredientes que podem te acrescentar e mudar sua visão. Mas lembre-se, na pizzaria podemos escolher o tamanho, nossa vida não temos isso. Por isso coloque o máximo de ingredientes que puder, para quando acabar, não ficar um gosto de quero mais.




terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Lembranças embaraçosas e inoportunas

[Você pode ler este texto ao som de: Trouble Sleeping - The Perishers]

Dormir é a melhor coisa do mundo. Sua cama quentinha, com seus travesseiros fofinhos, uma coberta para te esquentar. Perfeito! Na hora que você deita, já se sente relaxado e se perde naquela perfeição dos deuses do Olimpo. A cama é o lugar que nós usamos para pensar, descansar, chorar, sorrir, dormir, claro. E sempre, sempre acontece de estarmos quase no mundo dos sonhos e algo vir em nossa mente. Algo que fizemos no passado e temos vergonha.

Sabe aquilo que você falou em um momento inoportuno? Ou aquele fora que você levou? Ou o porre que você tomou? Ou aquela gafe no jantar com os pais da (o) namorada (o)? Sabe tudo isso? Vai aparecer na sua mente de novo, qualquer dia desses. E é horrível! Primeiro que perder o sono já é ruim, segundo que reviver passado embaraçoso só nos deixa mais envergonhados ainda. Dá uma angústia! 

Eu sou a rainha da vergonha alheia antes de dormir. Sempre perco o sono por alguma bola fora que eu já dei nessa vida. E tenho que substituir o pensamento rápido, senão fico horas remoendo aquilo e acabo por me sentir tão mal quanto quando aconteceu.



Meu corpo não é o ideal

Falar sobre o corpo é algo que gera uma certa vergonha na maioria das pessoas. Até em mim, falar sobre isso causa um certo desconforto. Não gosto todos os dias do meu corpo, isso depende de como me vejo no espelho.

Eu tenho celulites, estrias, manchas de sol e espinha, sinais de nascença indesejados. Meu corpo não é nem de longe o tipo de corpo que os padrões querem que eu me encaixe. Falta muita malhação, limpeza de pele, alimentação balanceada. Falta o estalo de vaidade que as revistas querem que eu tenha.

Querem que eu vá para a academia perder a pochete e as partes flacidas do corpo, que eu endureça os glúteos e as coxas, que eu tenha uma barriga de tanquinho, um rosto sem espinhas e marcas de expressão. Querem que eu deixe de ter o meu corpo comum para entrar na onda dos corpos iguais.

Por mais que as vezes eu quase caia na nessa lábia, meu corpo continua imperfeito aos olhos dos padrões. Os mesmo defeito os quais tenho preguiça de melhorar, continuam aqui. Meu corpo não é perfeito, não é o ideal, mas enquanto eu quiser, eu viverei com ele assim.        


domingo, 22 de fevereiro de 2015

Bem x Mal

[Você pode ler este texto ao som de: Bem ou Mal - NX Zero]

Existe o Bem e o Mal. Mas o que são? No dicionário buscando uma definição rápida se encontra: Bem: sm (lat bene1 Tudo o que é bom ou conforme à moral. 2 Benefício. 3 Virtude.4 Pessoa amada. 5 Proveito, utilidade. 6 Propriedade, domínio. Mal: 1 Tudo o que se opõe ao bem, tudo o que prejudica, fere ou incomoda, tudo o que se desvia do que é honesto e moral. 2 Calamidade, infortúnio, desgraça. 3 Dano ou prejuízo, na pessoa ou fazenda. 4 Qualquer estado mórbido impressionante, como a lepra, a raiva, a tuberculose etc. 5Qualquer doença epidêmica ou reinante. 6 Achaque, doença, enfermidade. 7Castigo, punição, expiação. 8 Tormento, mágoa, sofrimento. 9 Palavras contra alguém ou contra alguma coisa. 10 Inconveniente.

Percebe-se que para definir algo que não é de bom sentimento, vindo do coração, encontramos mais definições do que aquilo que diz que faz bem. Essa é uma discussão de muitos anos, que nunca entra em acordo. Às vezes, o que é bom para você é ruim para outra pessoa e vice-versa. 

O ponto que eu vejo é: não existe bem ou mal. Não existe algo que seja sempre bom ou algo que seja sempre ruim. Tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. Juntos. O bem e o mal se completam. Somente nós, seres humanos conseguimos enxergar um lado ruim para tudo. Deus enxergar uma harmonia entre os dois. Um Yin-Yang perfeito, onde tudo é balanceado. Até as coisas ruins tem seu lado bom. 

O que eu quero dizer com tudo isso é que não existe bem ou mal, separados, com forças diferentes. Existe um pouco de mal no bem e um pouco de bem no mal.



Um olhar não diz tudo

[Você pode ler este texto ao som de: Ghost of You - My Chemical Romance]

Quem quer que estivesse reparando no brilho dos olhos de Ana, jamais pensaria que ela estava tramando um assassinato. A forma como ela olhava para seu alvo era tão voraz, que pensariam que ela estava interessada na pessoa cinco bancos à frente no metrô. A vítima sequer sabia que Ana estava ali. Na verdade, a vítima nunca soube que Ana existia. Amores platônicos tem muito disso.

Ana viu Paulo pela primeira vez no ensino médio, eles eram da mesma sala, mas ele nunca a notou. Nunca brincou com ela, nunca a defendeu de nenhuma brincadeira. Nem Paulo, nem ninguém da sala, nem os professores reparavam que Ana existia. Era como se Ana fosse um fantasma naquele lugar. Ela não tinha família. Então, desde que se conhecia por gente, ela era sozinha no mundo. Era uma garota deprimida. Oito anos haviam passado desde que ela percebeu que era invisível para seu amor.

Quando Paulo desceu na sua estação, Ana foi atrás. Com a faca escondida na manga, assim ela se vingaria por seu grande amor nunca ter notado a presença dela. Subiram as escada, chegaram ao bairro Liberdade e Paulo continuou andando, sem saber que estava sendo seguido. Subiu as escadas que davam para seu apartamento. Era de seu costume deixar a porta destrancada quando estivesse em casa. E assim, Ana entrou e viu Paulo deitado no sofá assistindo televisão.

Ela chegou por trás e o golpeou no peito. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes. Parada para descansar, Ana escuta uma risada. Paulo continuava deitado ali no sofá, rindo para a televisão. Ana o golpeou de novo. Nada. A faca entrava e não fazia nada. Foi quando Ana reparou no espelho em cima da televisão. Ela não aparecia. Ana realmente não existia. Era um fantasma. Era por isso que ninguém a reparava. Era por isso que estava sempre sozinha. Ana gritou de desespero, mas ninguém ouviu.


Amor de cachorro

Acredito que animais existam para nos ensinar a amar como eles. Quem nunca viu histórias de cachorros que acompanham seus donos até o túmulo? Ou então de gatos que cuidam de seus donos? Ou de pinguins que são parceiros amorosos o resto da vida? Escutamos e vemos muitas histórias como essas e o mais triste, é que mesmo ficando comovidos com elas, não levamos em consideração para repensarmos nossas atitudes como seres humanos. Os animais vem com prazo de validade. Nós sabemos o máximo de tempo que eles poderão viver e sofremos com isso. 

Eu sou fã de cachorro. A maior vontade da minha vida é ter um cachorro porque ele, e somente ele, vai poder me ensinar o que é amor incondicional. Dizem que quando se é mãe, se aprende a amar assim. Eu duvido muito, vejo muita mãe deixando os filhos de lado, abandonando-os. Um cachorro não faz isso. Se você mostra afeto por ele, ele te mostrará afeto também. E respeito. E carinho. E fidelidade. E reciprocidade. Ele vai estar lá por você e vai te amar, mesmo que você o deixe um dia inteiro sozinho em casa.

O cachorro te mostra como amar unicamente com o coração, sem esperar muita coisa em troca (além dos biscoitos, é claro). Ele vai te lamber quando você estiver triste e pular quando você estiver alegre. Ele vai uivar e chorar de tristeza por estar sozinho e vai ficar amuado em um canto quando você estiver dando uma bronca nele. Cachorro é mais humano que muito ser bípede que está andando por aí. Por isso, na próxima vida, eu quero vir cachorro.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Mãe

Eu nasci em 2 de junho de 1992. E a única coisa que me chamou a atenção no vídeo do meu nascimento, foi o meu pai falando "Dou um close aqui, agora darei um close lá", se referindo à minha irmã.

Nunca soube como é ter um pai e uma mãe morando na mesma casa, ser criada pelos dois e tudo mais. Meu pai mudou para São Luís quando eu tinha 1 ano e meio, então eu só tenho o modelo feminino da família. Não que meu pai tenha sumido no mundo, eu vejo ele com uma certa frequência. 

Mas uma coisa que eu reparei na minha educação, que é diferente de muitos conhecidos, colegas e amigos meus, é que minha mãe não me criou para ficar dependendo dela e sim, para que eu abra minhas asas e voe sozinha. O lema dela sempre foi "se vira". Conversando com minha irmã, chegamos a conclusão que, se ela não tivesse nos criado assim, nós não estaríamos aonde estamos hoje, não teríamos conquistado nada e nem dado motivo algum de orgulho.

Ser criada dessa forma, me faz encarar a realidade de uma forma mais preta e branca. Porque se eu quero conquistar algo, tenho que me virar sozinha mesmo, ninguém vai me ajudar a chegar lá. 

Então eu agradeço a minha mãe, que me ensinou a lutar sozinha, que sempre demonstrou garra para conseguir tudo o que quis e uma força indescritível para criar duas filhas e que dedicou 30 anos da vida para tornar eu e minha irmã duas mulheres fortes para enfrentar o mundo.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Sobresalto

[Você pode ler este texto ao som Wake Up - Rage Against the Machine]

Terça-feira 17 de fevereiro de 2015

Querido diário,

A festa ontem acabou a 1 da manhã. Acabou pra mim, né? Porque a festa em si continua. Mas aconteceu algo muito estranho.

Quando eu cheguei, todos os móveis estavam diferentes, a decoração estava diferente, tudo havia mudado de cor, forma, lugar, jeito. Eu entrei em pânico! Achei que poderia ter entrado no apartamento errado. 

Fui até a porta e olhei bem o número e aquela era realmente a minha casa. Só para constar, eu moro sozinha em Florianopólis e minha mãe e meu pai moram na Bahia. Eu fui andando e reparando cada detalhe daquela decoração nova. 

Era tudo um estilo gótico, sombrio. Havia lampiões, velas, como nos castelos antigos dos livros que eu leio. Quando chego no meu quarto, vejo um homem sentado perto da lareira. Era ali que eu ia morrer. Quando o homem se vira para mim e diz:

- Jane, é você?

Acordei num sobresalto! A decoração estava normal, não existia nenhum homem sentado na poltrona e nenhuma lareira. Bendita hora que fui me envolver tanto com o livro Jane Eyre.



Não estamos sozinhos

[Você pode ler este texto ao som de: The Adventure - Angels and Airwaves]

"Como nós já sabemos, a sua nação é controlada por vocês, seres humanos. Os animais mais irracionais, estupidos e egoístas que já existiram. Nós os observamos desde os primórdios e ficamos impressionados com o tempo que eles demoraram para descobrir o fogo, a roda, a se comunicar e como são idiotas de achar que o dinheiro pode ser a única moeda de troca. 

Nós sentimos pena do seu atraso, humanos. E é por isso que estamos indo em sua direção para (tentar) melhorarmos sua qualidade de vida, suas tecnologias, suas pesquisas. Estamos chegando para compartilhar a sabedoria que adquirimos com nossos ancestrais aqui na galáxia. Estamos chegando para tirar o véu da cegueira e egocentrismo de vocês de acharem que estão sós.

O medo não é necessário. Não faremos como Douglas Adams e explodiremos seu planeta para ter uma via expressa. Chegaremos em paz, apesar de vocês não suportarem a ideia de paz. Sabemos que virão com armas para cima de nós. Mas somos mais inteligentes e preparados que vocês. Lutar contra nós é inútil.

Vocês nunca estiveram sós. E sempre foram observados."





domingo, 15 de fevereiro de 2015

O sonho de ser mãe

[Você pode ler este texto ao som de: Count on me - Bruno Mars]

Toda mulher sempre sonha com o dia que vai ser mãe. Sonha com a descoberta da notícia, com a reação do futuro papai, com o chá de bebê, as roupinhas, o cheirinho, a vida de mãe. Toda a preocupação, o compartilhar de sabedoria, o amor incondicional. Sonhos que ficam mais vivos quando recebemos a notícia de que existe uma vida crescendo dentro de nosso ventre. 

Quando minha amiga, a Luci, recebeu a notícia de que ia ser mãe, foi o momento mais feliz de nossas vidas. Ela estava tentando com o marido já havia 3 anos e eles finalmente conseguiram. Eles iam ser papais e eu madrinha. Como enfermeira, indiquei o melhor médico que eu já conhecera em todos os anos que trabalhava no hospital. 

Luci durante toda a gravidez foi radiante e responsável. Tomou todos os cuidados necessários e até uns extras para não ter problema e nem nenhuma surpresa. Eu a acompanha em tudo e quando a hora chegasse, eu também estaria na sala de parto. 

O grande dia chegou! Como estávamos felizes. Bernardo filmava tudo, incluindo as contrações e Luci ficava muito brava. Tinha tudo para ser um dia de muita alegria para nós.

Fomos para a sala de parto e nos preparamos. Já estava tudo pronto para começarmos o nascimento de Lilly, mas a expressão do médico mudou em pouco tempo. Ele avisou as enfermeira em tom baixo o que estava acontecendo. Ficamos assustados e nervosos, começamos a exigir explicações do que estava acontecendo. Foi quando o doutor colocou sua mão no braço dela e disse gentilmente:

- Você ou seu bebê sobreviverão. Não os dois. Sinto muito.

Ali, o nosso mundo desabou. Não existia mais alegria. Luci decidiu que salvaria a criança. O sonho dela havia se realizado, ela tinha sido mãe e continuaria sendo pelo céu. Tudo que ela pediu foi que eu e o Bê criássemos Lilly como ela merecia. Concordamos e nos despedimos com choro, com lágrimas, sem alegria nenhuma. 

- Não chorem. Eu estou indo neste corpo, eu voltarei em minutos.

Nunca entendemos o que aquilo quis dizer, só quando Lilly começou a falar que percebemos tudo. Ela tinha ido embora como Luci e voltou como Lilly. 


sábado, 14 de fevereiro de 2015

A vida

Vamos colocar as coisas dessa maneira: o mundo é um grande escritório de uma empresa corporativa.

O HD são as bibliotecas.

O grampeador são os laços de amizade e fraternais que possuímos em nossas vidas.

O telefone é o jeito de nos comunicarmos com outros setores.

O carro nos leva para conhecermos estes outros setores.

E no quadro de avisos, a mesma mensagem continua lá: "Sobreviva se for capaz".

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Dragons

Toda vez que eu conto minha profissão para meus amigos, eles riem da minha cara e falam que sou um excelente humorista. Leitor, eu sou uma domador de dragões. Não ria, é verdade! Você aí não pode ver, mas eu domo dragões todo dia.

Minha sogra é um dragão, minha esposa é um dragão, minha filha é um dragão, minha mãe, irmãs, chefe, aliás, todas as pessoas que conheço são dragões. Lidar com outro ser humano é um desafio tão grande pra mim, que eu chamo todos de dragões.

Dragões existem e estão travestidos na forma de desafios para você lidar. 


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O talismã

[Você pode ler este texto ao som de: Get Lucky - Daft Punk]

Há muitos anos atrás, um jovem alquimista criou um talismã mágico que permite quem o tem a ler mentes. Por anos e anos este foi um objeto de cobiça, porém nunca fora encontrado. Acabou por dizer-se que tudo não passava de uma lenda, um conto dos livros de criança da época. Mas o que era uma lenda na cabeça de Tiago, acabou por tornar-se realidade.

Com linhagem familiar política, Tiago se entregou jovem aos braços das eleições. Começaria como vereador e a medida que completasse os aniversários necessários, tentaria um cargo superior. Tiago tinha apenas um diferencial dos políticos de sua família: ele possuía o dom de ler a mente de cada um deles. Como? Por sorte, destino ou azar, o talismã que dizíamos ser uma lenda, caiu em suas mãos durante uma viagem à Camboja. Era esse seu truque para conquistar seus eleitores: falar exatamente aquilo que eles queriam ouvir. E foi assim que ele se elegeu.

Durante todo o seu primeiro mandato, ele não fez nada daquilo que seus eleitores queriam. Não que não tenha feito coisas boas, mas iludiu a todos com promessas que não cumpriu. Deixou o poder subir à sua cabeça, queria continuar na política pela vida boa que esta o proporcionava. Mas, eis que durante a sua campanha de reeleição, quando ia colocar o talismã para sair, ele viu que o mesmo não estava no cofre que somente ele tinha a senha. Ele o perdera. Estava acabado.

Saiu sem o talismã e não obteve nada. Seus eleitores não o reconheceram, pareciam não entender como que o dom da adivinhação havia sumido de seu vereador. Perdeu a eleição, perdeu a vida boa. O talismã que tanto o ajudara, tinha o deixado na mão. Não havia mais vida, não havia mais nada que o interessasse. Se não era pra ser político, ele não iria viver mais...


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A praia não é para todos

[Você pode ler este texto ao som de: Nós Vamos Invadir Sua Praia - Ultraje a Rigor]

Tem três crianças sentadas em uma tora próxima a um córrego. Uma olha pro céu e diz:

- Que calor do diacho!

O córrego na frente deles estava completamente poluído. Para aquela comunidade carente, aquele córrego era a única salvação pra livrarem-se do calor que fazia no Rio de Janeiro. Mas ninguém se importou com isso na hora de jogar o lixo.

Com os olhares pesados de tristeza e o suor pingando de seus corpos, eles decidiram ir à praia escondido. Não tinha outra maneira, era aquilo ou morreriam ali mesmo de calor. Pegaram a linha que ia para Copacabana e desceram. Eles não podiam frequentar nenhum posto pois eram enxotados dali como cachorros.

Foram pro mar e ficaram por lá mesmo. Passaram-se uma, duas, três horas e eles não saíam da água. Quando enfim resolveram sair, quando estavam indo embora a polícia enquadra eles.

- Mãos na cabeça, molecada. O que que vocês querem aqui? - disse o policial.

- A gente não quer nada não, dotô. Tamo aqui só pra se refrescar mesmo. Já tamo indo. - disse o mais velho deles, que tinha 12 anos.

- Refrescar o escambau. Tão aqui querendo fazer arrastão que eu sei. Conta historinha pra mim não moleque. - e deu uma cacetada no menino que o derrubou no chão.

- A gente não tá querendo nada não, dotô! A gente não tá querendo nada não! Tamo indo embora já. O sinhô não precisa partir pra violência não. - gritava o menino em prantos, com as pessoas que estavam na praia observando a cena e gravando.

- Vaza daqui. Vocês não pertencem a este lugar.

E eles foram embora, de cabeça baixa, com dor na autoestima, com o orgulho ferido. Se até a praia era proibido, onde estava a liberdade que tanto falam que eles tinham?


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Encerrando casos

[Você pode ler este texto ao som de: Hunted Down - Soundgarden]

Havia meses que Samuel estava fora dos radares da polícia. Dias após o começo das investigações que tentavam incriminá-lo, era como se ele tivesse desaparecido do mapa, evaporado, abduzido. Não era mais visto por seus vizinhos, família e amigos. Ninguém tinha ideia de onde ele poderia estar. Ninguém mais ouvira falar dele. Mas mesmo assim, Hans não desistiu. 

O detetive Hans estava aproveitando sua aposentadoria da polícia alemã quando recebeu uma ligação pedindo para abrir exceção para este caso: um serial killer havia matado mais de 50 mulheres que haviam acabado de fazer 18 anos. Este era o seu padrão. Mas desde que sua última vista fora encontrada, ele sumira.

Foram os piores meses que ele passou durante toda a sua carreira. Nunca alguém havia sumido assim. Mas até que uma pisada em falso, determinou que Samuel estava mais perto do que poderiam imaginar. Hans estava agora tomando seu cappuccino com seu strudel de maçã, igual fazia quando tinha que virar a noite na delegacia e aquela cafeteria era o único lugar decente para comer. Ele olhava com atenção uma das garçonetes. Quem observava de longe imaginaria que o velho estava querendo algo com a garçonete.

Ela era a última a sair, pois esta semana fecharia a lanchonete todos os dia. Quando ela saiu o detetive viu a oportunidade. Ele agarrou o braço da garçonete e disse:

- Não tão rápido, mocinha. Primeiro você vai me levar naquele lugar que você vai todos os dias a noite deixar este lanche.

A garçonete congelou por dentro. Ele sabia, ela pode sentir. Ela não teve outra opção a não sei levá-lo até Samuel, o grande amor da sua vida. Ela sabia que estava fazendo o certo, mas seu coração doía em pensar que nunca mais o veria vivo. Quando ela abriu a porta, ele veio saudá-la com todo amor e carinho que sentia, mas viu que havia sido traído. Ele não seria levado, não daria esse gosto para a polícia. Então, com um último beijo de despedida em sua amada e com a arma em mãos deu um tiro na própria cabeça. 


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O pássaro

[Você pode ler este texto ao som de Sitting, Waiting, Wishing - Jack Johnson]

Era uma linda noite de inverno. Aquela era minha primeira noite em Lisboa. Flocos prateados caíram, brilhando na clara luz de Lua cheia. O melro desceu e pousou no banco que eu estava sentada tomando meu café. Nunca tinha visto um e fiquei admirada com sua beleza. Sua cor preta se destacava na neve branca.

Seu canto me trazia lembranças. A trajetória percorrida para chegar até aqui foi complicada. Eu saí do Brasil com o coração em pedaços e sem ter para onde voltar caso tudo desse errado. Eu perdi meus pais em um acidente antes de receber a proposta de vir para cá. Meu namorado havia me deixado logo após o acidente. Eu achei que nada de bom iria acontecer mais em minha vida, até que uma reunião no trabalho mudou tudo.

Eles estavam abrindo uma filial em Portugal e gostariam que uma parte dos funcionários viesse trabalhar aqui. Como eu já não tinha nada que me prendesse no Brasil, fui a primeira a me candidatar. Vendi casa, carro, móveis e vim somente com as malas de roupa. Antes de sair já tinha tudo organizado aqui. Foram dois meses de dor, ansiedade e medo. Eu agora iria enfrentar o mundo sozinha, literalmente.

Acordei de meus pensamentos com o pássaro no meu joelho me olhando em silêncio, como se tivesse observado todos os meus pensamentos junto comigo. Como se compreendesse cada dor, cada sorriso, cada medo que eu sentia. Era como se ele me conhecesse há tempo suficiente para entender meu olhar. Ele cantou mais uma vez, como se me desejasse boa sorte e voou. E eu fiquei ali, admirando a beleza do seu voo e torcendo para que realmente tivesse a sorte que ele desejou.




domingo, 8 de fevereiro de 2015

Nem todos os horrores são iguais

[Você pode ler este texto ao som disto]

Ele girou a chave na fechadura e abriu a porta. Para seu horror, ele viu aquilo que todos dispensamos ver. Tom não podia acreditar em que seus olhos viam, queria acreditar que aquilo era tudo uma miragem, que não tudo não passava de um fruto da sua imaginação. Que ele estava em meio à um pesadelo o qual não conseguia acordar.

Tentava pensar quem seria capaz de uma atrocidade daquelas. A pior desgraça do mundo, do seu mundo. Enquanto ele andava por seu quarto ele ficava cada vez mais perplexo e os piores pensamentos de horror invadiam sua mente. "Por que, meu Deus? Isso não poderia ter acontecido" era tudo que ele conseguia pensar.

Ele olhava ao seu redor, o que ele não queria havia acontecido. Ele havia rezado para que este momento nunca chegasse, tentou evitá-lo ao máximo. Mas agora que havia acontecido, o que fazer? Como apagaria os rastros do que ocorrera ali? Como explicaria para as pessoas o que tinha acontecido ali. E então, ele gritou:

- MÃE! POR QUE VOCÊ ARRUMOU O MEU QUARTO?


sábado, 7 de fevereiro de 2015

A noite dos sonhos

[Você pode ler este texto ao som de:  First Date - Blink 182]

Toda mulher sempre imagina
Que o primeiro encontro perfeito
Se mede com a quantidade de sorriso
Até os cantos da orelha

Que quando o cara toca na sua mão
Nem tem nada
E nem ninguém 
Que te traga de volta pro chão

Que não importa se é vinho 
Ou refrigerante
Mas sim que o brilho no olho
É o mais importante

Que pode ser jantar
Pode ser almoço
Desde que haja encanto
Tudo saíra maravilhoso

Mas ouso dizer que
Nem todo primeiro encontro 
Segue a risca nossos sonhos

Eles seguem outro roteiro
Ques no fazem achar
Que vale a pena o filme inteiro.



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Nem tudo é o que parece

[Você pode ler este texto ao som de Beautiful Lie - 30 seconds to mars]

Tem um cara sentado em um banco no parque lendo jornal. Ou melhor, você leitor acha que ele está lendo jornal. Meu carrinho de doces fica num ponto estratégico entre o banco onde esse sujeito e onde uma jovem moça está sentada com seu namorado que ele estava observando desde o início. De início comecei a pensar muitas coisas. Que ele era um detetive, um perseguidor apaixonado, um assassino. Este último me deu arrepios só de pensar.

Às vezes ele coloca a mão no ouvido e sussurra alguma coisa, mas minha inaptidão para fazer leitura labial não me permitia entender o que ele estava falando. Aquela situação já estava me deixando tensa. Nunca vi um olhar tão frio e incessante igual aquele. Parecia que a qualquer momento ele poderia atacar.

Para o minha falta de sorte, ele percebeu que eu estava observando-o e me olhou fundo. Decidi reposicionar meu carrinho para um pouco mais a frente para evitar que ele pensasse que eu iria fazer algo contra ele ou fala e alguma coisa. Isso pareceu satisfazer ele porque logo que me afastei, ele retornou o olhar para a sua vítima. Quero dizer aqui, leitor, que era uma terça à tarde e o parque estava vazio, logo o que aconteceu a seguir foi visto somente por mim.

Quando ele retomou seu olhar para o casal, logo sacou sua arma e acertou um tiro na cabeça de cada um. Os corpos caíram como se fossem bonecos de pano e seu sangue derramava como um sobre o outro, devido ao fato de terem sido pegos durante um beijo. Levei as mãos até o rosto de horror. Não iria gritar, pois queria continuar viva. Eu estava tão apavorada com a cena que não vi que ele se aproximava de mim.

- Gostou? - disse ele para mim.

Olhei-o assustada e disse que tivesse piedade.

- Ora mulher, porque eu haveria de gastar bala com você? Quando na verdade quem vai ser acusada de tudo é você.

E colocou a arma em minha mão. E agora o que eu faria?

CORTA!

A cena foi cortada, o diretor agradeceu pelo dia de trabalho e elogiou a mim e ao Travolta pela seriedade na cena inicial do filme. E você, leitor, achando que eu presenciaria um assassinato e ficaria quieta.


A fé vem de dentro

Eu nunca fui uma pessoa muito religiosa. Mesmo sendo batizada na igreja católica, não gostava de ser forçada a ir à missa e ouvir sermões que, em grande maioria, eu não concordava. Sou muito relutante em acreditar na Bíblia, mas mesmo a sim a leio para melhor compreensão.

Procurei de várias formas me encaixar em uma religião. Depois de decidir não continuar frequentando a igreja católica, fui em centros espíritas, budistas e outros tipos. E depois de muito pensar, decidi não seguir mais nenhuma. Não que minha fé tenha se extinguido ou que eu não acredite mais na presença de Deus, eu apenas decidi que não iria seguir para um lado só.

Se você quiser procurar no Google o que é uma pessoa que acredita em Deus mas não segue religião nenhuma, ele lhe responderá que sou Agnóstica. Mas como eu não quis definir uma doutrina para seguir, também não me ateio a definições sobre o que eu sou.

Eu acredito em Deus, converso com Ele, em momentos de angústia eu o chamo, em momentos de alegria eu agradeço a Ele pela graça concedida. Esse é o meu momento de fé. Tentar defini-la é impossível e descreve-la é complicado.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Quem disse que ser criança é fácil?

[Você pode ler este texto ao som de: Kids - MGMT]

Os adultos não sabem, mas algumas crianças podem ser cruéis em suas brincadeira. Basta fazermos pose de anjo e olhinhos de cachorro pidão que conquistamos e derretemos seus corações fazendo com que acreditem em nossa inocência e jurem de pés juntos que somos santos. 

Meu nome é André. Tenho 8 anos e acabo de ingressar no Dom Quixote. Hoje é meu primeiro dia aqui e bem, como se era esperado do primeiro dia de aula, eu sabia que algo ruim iria acontecer hoje e que poderia me perseguir o ano inteiro. Então eu decidi tomar todas as precauções possíveis. Mas quando algo tem que acontecer, vai acontecer sim.

O sinal para o começo das aulas tocou e eu me sentei na carteira com meu nome. Até aí tudo bem. Os horários foram passando e ninguém havia conversado comigo ainda e eu estava nervoso demais para tentar entrosar com alguém. A hora do recreio chegou e a mamãe havia colocado em minha lancheira meu sanduíche de atum e um suco Kappo de morango (o meu favorito). O primeiro dia estava correndo perfeitamente bem até o final do recreio quando eu senti uma dor de barriga daquela e tive que ir ao banheiro.

Vida de criança não é fácil e na escola só fica imune os mais fortes. Para o meu azar, um pedaço de papel higiênico ficou preso na minha cintura e não demorou muito algum "coleguinha" perceber isso e me zoar. Todos os apelidos dispensáveis que uma criança pode ouvir, eu ouvi naquele dia, no meu primeiro dia de aula em uma escola nova, sem amigos e ninguém do meu lado. Todos riam de mim e apontavam dedos. Mas eu não ia deixar isso me diminuir.

Fui em direção ao menino que começou a zoar comigo primeiro e o puxei pela gola da camisa. Eu só me lembro até aí. Depois só me lembro de estar no hospital com minha mãe aos prantos. Acontece que quando eu puxei o menino, ele sacou o canivete e enfiou no meu peito. Ao bancar o valentão eu acabei me ferrando. Eu te falei que ser criança não é fácil...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A vida depois do fim da Terra

[Você pode ler este texto ao som de: The Cure - The End of the World]

O asteroide estava deslocando diretamente em direção a Terra. O tempo era curto demais para tentar salvar muitas coisas e eu ainda tinha que correr para pegar as crianças na escola e salvá-las. Tudo estava sendo saqueado. O anúncio de colisão tinha sido avisado há um ano e todos se mobilizaram para tentar se salvar. Não sei o que os Crowleys ou os Hudsons ou os Trans fizeram, mas sei que via o pavor em seus olhos.

Eu busquei as crianças e paramos em frente um supermercado que ainda não havia sido totalmente saqueado para nos abastecermos. Não que eu não tenha uma grande reserva em casa, que eu não tenha planejado tudo, mas em situações como essa, o demais nunca é exagero. Para você leitor, eu vou contar o que eu fiz: eu fiz uma casa subterrânea. Toda casa tem um porão embaixo e embaixo do meu porão, eu refiz a minha casa. Com todos os cômodos, móveis e utilidades que possuíamos na superfície. Não foi fácil e nem sei se sobreviveremos lá dentro. Mas pelo menos tentei dar uma oportunidade de maior tempo de vida para meus filhos.

Uma hora foi o tempo em que eu demorei para fazer tudo isso e, também, foi o tempo que o asteroide demorou para cair em nosso planeta e devastar tudo aquilo que um dia conhecemos. Todos os avanços tecnológico se tornaram inutilizados. Todos os recursos naturais se foram. Se eu pudesse definir a situação do nosso planeta em uma palavra, seria esta "devastação". Um planeta sem vida, sem cor. 

Eu saí do meu esconderijo após um mês da passagem do asteroide e comecei a ajudar a reconstruir nosso planeta. Não foram muitos os que sobreviveram. Após um tempo meus filhos faleceram e eu fiquei só. Uma voz me chamou para o Oeste. E é para lá que eu vou. Meu nome é Eli e esta é a história da minha caminhada em encontro ao que restou da civilização e para levar a palavra Dele de volta ao povo.



*Texto alusivo ao filme O Livro de Eli.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Em meio a guerra, nós encontramos o amor

[Você pode ler este texto ao som de: Thirty Seconds To Mars - This Is War]

2 de janeiro de 1942

Querido diário,

A guerra continua. Estou presa em um campo de concentração com muros altos e cercas elétricas com soldados nazistas armados até os dentes e armas em punho. Eu consigo enxergar o ódio em seus olhos e o sorriso de satisfação em derramar nosso sangue. O sangue judeu.

2 de dezembro de 1942

Querido diário,

Como eu queria que os Aliados pegassem Hitler e derramasem o seu sangue. Como eu queria poder continuar lecionando. Como eu gostaria de reencontrar aquele violinista de olhos castanhos. Mas a esta altura ele já deve estar nos céus. Ah, como eu queria que me levassem junto para acabar com este sofrimento.

2 de julho de 1943

Querido diário,

Hoje eu reencontrei o amor. Mas ele veio fardado, com uma suástica em seu peito e uma arma em punho apontada em minha direção. Meus olhos azuis se encontraram com seus olhos verdes. Foi uma troca de olhares intensa o suficiente para ele abaixar sua arma e ir embora. Estou indo dormir com seus olhos invadindo meus pensamentos. Que Deus retire de mim esse sentimento.

2 de abril de 1944

Querido diário,

Eu e ele conversamos escondido todos os dias. Seu nome não ouso dizer nem em meus pensamentos. Ele me alimenta com pão e palavras de carinho. Ele me mantém viva. Deus, como eu gostaria 
que esta guerra acabasse.


Ele também deseja isso. Ele diz que me ama, que quer casar comigo assim que a guerra acabar, que quando formos libertos, ele estará me esperando no portão. Ele chora comigo que o peso da suástica nunca foi tão difícil de carregar, que nunca sentiu tanta dor. Mas não sei se consigo acreditar.

30 de agosto de 1945

Querido diário,

Eu vejo a desolação em seus olhos. Eu vejo a dor ofuscar a luz destes belos olhos verdes. Ele não consegue me ver mais. Nem ao menos me sentir. A morte veio me abraçar e me levar. Mas eu não me escondi dela. Em meio a guerra, eu senti o que era amor de novo. Eu fui correspondida. Meu coração parou de bater com bons sentimentos. Subindo para os céus, eu mando meus beijos nunca dados para ele. Eu vou em paz, porque ele me fez sentir assim.


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Na loteria só ganha quem joga (e se joga)

[Você pode ler este texto ao som de: Billionaire - Travie McCoy ft. Bruno Mars]

A gente sempre pensa em como seria ganhar na mega sena, achar petróleo no jardim de casa, encontrar diamantes em uma visita a uma gruta. Todo ser humano, seja rico ou pobre, tem sonho de dar de cara com algo desse tipo. "Deus, me ajude a ganhar na loteria", é sempre pronunciado. Mas acho que Deus já tem como pensamento que a vida é uma loteria e que você tem que ir jogando até acertar. E não é que eu acertei? Deixe-me explicar esta história direito.

Dia desses, estava passeando por uma cidade. Interior é pequeno e caminhando você vai indo longe. Estava perto de uma igreja e, desastrada do jeito que sou, pisei em uma pedra, tropecei e caí. Mas as lágrimas da dor de um joelho ralado secaram rapidamente ao ver no que eu havia pisado. "Por Padin Padi Ciço! É ouro!" pensei em êxtase. Me deixe por aqui um parênteses: eu nunca havia ganhado nem bala de grila na época de escola. Enfim, após tomar a consciência peguei a pedra de ouro, coloquei na bolsa e fui embora.

Voltei para o hotel que eu estava e não comentei nada com ninguém. Resolvi que isso seria algo que eu guardaria para mim. Na segunda-feira após o fim da viagem, fui ao banco e pedi para conversar com o gerente em particular. Lá eu expliquei o que havia acontecido e ele ouviu de forma apática e me aconselhou a guardar a pedra no cofre. Falei até que podia fazer isso, mas queria uma quantia em dinheiro referente a um pedaço da pedra. Ele concordou. Então eu falei: "Quero 100% da quantia da pedra". A apatia dele acabou ali. Ele me olhou assustado "Como assim 100%?". Eu falei "Uai, se você acha que eu vim aqui só para guardar algo que pode sumir depois, está enganado. Quero render essa pedra. E depois, você pode ficar com um pedaço dela para você fazer um dinheiro também". Então ele percebeu que o negócio podia ser lucrativo para ele também.

E esse foi o dia que eu ganhei na loteria da vida. Mas ainda não aproveitei nada do dinheiro. Hoje ele já triplicou o valor inicial. Quando for a hora eu pego um pouco dele e saio viajando. Afinal a vida é assim, um dia a gente acerta em cheio e nos outros aproveita desse acerto.